COVID-19 E RISCO DE TROMBOSE

 

Nós realmente ainda não conhecemos nosso inimigo... Mas já sabemos que parcela dos pacientes com infecção pelo coronavírus (COVID19) podem evoluir com síndrome respiratória aguda grave (SARS), choque, disfunção de múltiplos órgãos e mortalidade substancial. E nesse cenário de profunda “tempestade inflamatória”, especialmente pelas IL-1 e IL-6, podemos ter um ambiente propício para hipercoagulabilidade, ou seja, formações de trombos venosos e arteriais nos pacientes infectados. Normalmente, os trombos acontecem na microcirculação pulmonar, mas podem ocorrer em outros sítios como o sistema nervoso central. Encontramos elevação expressiva do D-dímero sanguíneo (substância produzida pelo organismo quando coágulos são “dissolvidos” na circulação), pouca alteração nos níveis das plaquetas e o TTPA, um exame de coagulação, alargado. Um estudo recente com amostras de sangue de 216 paciente com SARS por COVID19 mostrou que 20% apresentavam TTPA alargado. Com 91% dos 34 pacientes testados para a presença de anticoagulante lúpico (AL) com resultados positivos. O AL é um anticorpo antifosfolípide que caso persistente na presença de quadros de tromboses pode caracterizar a síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAF). O achado do TTPA alargado normalmente caracteriza um estado de tendência a sangramento, porém da mesma forma que ocorre na SAF esse resultado está relacionado a presença do anticorpo AL. Que apesar de “in vitro” (no laboratório) causar tendência a sangramento “in vivo” (no paciente) causa tendência a trombose.
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Isso significa que a infecção pelo COVID19 está relacionada ao desenvolvimento de SAF secundária e essas tromboses? Ainda não podemos afirmar nada e novos estudos precisam estabelecer se teríamos persistência do AL e se ele teria realmente um protagonismo nessas tromboses, já que outros fatores como imobilização, dano vascular e outras possíveis alterações na coagulação devido processo inflamatório coexistem nesses pacientes. Mesmo assim, com todas essas evidências, já existe a recomendação do uso de heparina de baixo peso molecular, um anticoagulante, nos pacientes internados com COVID19 para prevenção e/ou tratamento de eventos trombóticos.