"CLOROQUEEN"

E ela está quase, “head to head” como nós costumamos dizer, mais famosa que o próprio coronavírus. E pensar que tudo começou por conta de uma ação inibitória in vitro, mas até aí tudo bem, já que é assim que a maioria dos medicamentos começam sua carreira. A diferença nesse caso pandêmico é que bastaram relatos de casos e resultados tendenciosos de trabalhos, pequenos e mal elaborados, para que ela ganhasse fama. E tal qual as pseudo celebridades atuais, não foi preciso muito esforço e conteúdo para fazer sucesso.
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E quando um desavisado qualquer “dá um google” e percebe que “não existem muitos relatos de pacientes lúpicos infectados com coronavírus” ele, brilhantemente, mata a charada e joga a coisa toda no ventilador das redes sociais. Mas precisamos lembrar que, supreendentemente, nem tudo está no goolgle. Ou melhor, para que conclusões baseadas em evidências científicas sejam feitas e seus dados disponibilizados no gooogle, ou em qualquer outro lugar, um trabalho científico de rigor metodológico e ético deve ser conduzido. Ou pelo menos deveria ser assim. Mas nossos pesquisadores não têm o mesmo poder “viralizante” quando conduzem seus trabalhos. Até poderiam ter, caso fossem devidamente valorizados e apoiados pela sociedade, como são atualmente as celebridades e jogadores de futebol, por exemplo. Mas nem por isso não estão trabalhando. Ao contrario, estão unindo forças para compilar todos esses dados, encontrar respostas e salvar vidas.
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Uma dessas ações, a Aliança Global de Reumatologia COVID19 está, com ajuda de pacientes e reumatologistas do mundo todo, já com 872 pacientes com doença reumática infectados, destes 136 têm lúpus e 209 usam hidroxicloroquina. E a cada semana novos estudos, grande ou pequenos, bem ou mal desenhados são uníssonos e constroem as evidências de que a hidroxicloroquina não é uma boa ideia. Seja para tratamento ou como profilaxia. Pois é minha gente, em um mundo pós-COVID19 esperamos que relevância seja diretamente proporcional ao conteúdo. Mas é como se diz: “Tem muita live por aí que poderia ser um stories”.